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Como funciona o cérebro no processo de leitura e escrita: o papel da consciência fonológica na alfabetização e a proposta de “As letras falam: metodologia para alfabetização”

Prof. Dr. Jaime Zorzi.

Publicado em 05-06-2018 00:00:00

Compreendendo a natureza da escrita alfabética para uma alfabetização mais eficaz

Os sistemas alfabéticos de escrita fazem uso de letras. Como princípio, o papel das letras é o de representar os fonemas que compõem as palavras faladas. Uma das características principais de tais sistemas diz respeito a um jogo de correspondências entre fonemas, por um lado, e letras, por outro.

Assim sendo, podemos afirmar que a invenção da escrita alfabética somente se tornou possível graças à atenção que se passou a dar para a estrutura sonora da fala, o que permitiu sair da palavra como se fosse um bloco sonoro único, chegar até as sílabas e, a partir das sílabas, chegar até os constituintes sonoros mínimos, que são os fonemas, os quais foram “transformados” em letras que passaram a representa-los. Outro fato determinante na invenção da escrita alfabética diz respeito à constatação de que as palavras de uma língua, por mais numerosas que possam ser, apresentam sempre os mesmos fonemas, os quais se repetem a partir de determinadas combinações. Desta forma, encontramos, em todas as línguas, um conjunto limitado de fonemas os quais permitem a constituição do vocabulário de cada uma delas, assim como a pronúncia de cada palavra.

Em síntese, tomando como base o princípio constitutivo do sistema da fala, o qual se caracteriza por um conjunto finito de fonemas que se repetem nas mais diversas palavras da língua, criou-se um sistema de escrita que segue o mesmo funcionamento, mais especificamente, um conjunto finito de símbolos (letras) que representam os fonemas e que, combinados permitem a escrita e a leitura de todas as palavras que compõem essa língua, na medida em que ativam processos mentais de conversão entre fonemas e letras.

 

Que processos mentais e competências são requeridas por sistemas alfabéticos de escrita para poderem ser aprendidos?

Dada a natureza dos sistemas alfabéticos, alguns conhecimentos serão essenciais para que a aprendizagem possa ocorrer de modo favorável: 1) O desenvolvimento de uma capacidade denominada consciência fonológica que permite segmentar palavras em sílabas e fonemas, assim como constatar que as diferentes palavras se constituem a partir da combinação desses fonemas; 2) Compreender que, para cada fonema existe, no mínimo, uma letra para representá-lo. Isto significa aprender o valor sonoro das letras e estabilizar as correspondências fonemas-grafemas. Desta forma, a um conjunto limitado de fonemas também corresponde um conjunto limitado de símbolos gráficos. 3) Compreender que, para escrever uma palavra, o ponto de partida é analisar sua estrutura sonora, identificar cada um dos fonemas componentes, e atribuir a eles as letras correspondentes; 4) Como princípio geral, compreender que, para ler, deve-se atribuir às letras os sons que elas representam, unir os fonemas em sílabas e as sílabas em palavras;  5) Complementarmente, faz-se necessário conhecer as letras, aprender a nomeá-las, a traçá-las, a diferenciar nome da letra versus o som que ela representa e consolidar um processo sistemático de correspondências entre fonemas e grafemas.

Podemos concluir, portanto, que chegar a um nível alfabético, ou estar alfabetizado, implica a construção de conhecimentos que permitem a compreensão de que os sons da fala se transformam em letras e que as letras representam sons. Graças a este entendimento podem ser constituídos os processos de leitura (letras transformam-se em sons) e os de escrita (sons transformam-se em letras).

 

O que é a consciência fonológica?

A consciência fonológica corresponde a uma habilidade para analisar as palavras da linguagem falada, de acordo com as diferentes unidades sonoras que as compõem, como é o caso das sílabas e dos fonemas. Enquanto separar palavras em sílabas é um processo simples e até mesmo natural, detectar os fonemas depende de uma interação mais ativa com o código escrito, interação essa que caracteriza o próprio processo de alfabetização. Vygotsky há muito já afirmava que, quando a criança fala, a consciência que ela tem dos sons que está pronunciando é muito imperfeita, uma vez que sua atenção está dirigida para o sentido e não para a composição sonora da palavra. Porém, para escrever, a criança tem que tomar consciência dessa estrutura sonora da palavra, precisa dissecá-la e transformá-la em símbolos alfabéticos, os quais já devem ter sido estudados e aprendidos, fato que nos leva à questão da associação entre fonemas e grafemas, remetendo-nos diretamente às noções de consciência fonológica e de correspondência fonema-grafema.

 

“As letras falam: metodologia para alfabetização”

Proposta de ensino desenvolvida graças ao desafio de alfabetizar crianças com problemas de aprendizagem, já marcadas pelo insucesso escolar e por anos seguidos de tentativas frustradas. Esta metodologia está construída de forma progressiva, estruturada e sequencial, seguindo uma orientação fônica, e que tem por objetivo desenvolver competências fundamentais envolvidas no processo de alfabetização, dentre elas as chamadas habilidades metafonológicas e as correspondências entre fonemas e grafemas.  

A metodologia aqui apresentada propõe atividades planejadas para promover, de forma sistemática e eficaz, o aprendizado das regras de uso e funcionamento do código alfabético, podendo ser aplicada no ensino regular com crianças que iniciarão o processo de alfabetização, em sala de recursos e no atendimento clínico (fonoaudiológico, psicopedagógico, psicológico) de crianças com problemas de aprendizagem.

O emprego desta metodologia pode e deve ser feito juntamente com as chamadas práticas de letramento uma vez que tem como meta fundamental desenvolver, nos aprendizes, possibilidades de leitura e de escrita com autonomia e eficácia. Alfabetização e consolidação de competências em leitura e escrita estão na base dos verdadeiros progressos no processo de letramento e na garantia de condições favoráveis para o sucesso acadêmico de modo geral.

 

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